19 de dezembro de 2015

Prolongar a extinção

Samuel Butler dedicou três dos capítulos de Erewhon (1872) à exposição de uma teoria darwinista sobre a evolução das máquinas. Chamou a esse conjunto de textos «The Book of the Machines», no qual previu que, de modo gradual e quase imperceptível, os seres humanos se transformariam em meros instrumentos utilizados pelas máquinas para que estas se tornassem cada vez mais sofisticadas. Seriam eles a alimentar os seus sistemas digestivos com carvão, a reparar as suas partes doentes ou a reproduzirem-nas. Os povos com tecnologias menos desenvolvidas sairiam derrotados nos confrontos com outros grupos e, em consequência, as máquinas por eles criadas seriam extintas.

Em todo o caso, há algo de nostálgico em utilizar uma tecnologia quando todos os indícios sugerem o início da sua obsolescência. Assim tem início este blogue, no momento em que a atenção de quase todos se voltou já para formas mais interactivas de partilha de textos e de imagens. Por enquanto, parece-me ser este ainda o melhor formato para a tentativa de escrita de um relatório intermitente sobre a vida em Viena. É um exercício inútil, mas não mais do que todos os outros a que nos dedicamos para prolongar a extinção. 



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